Muralha

            Eram cinquenta homens e eu. Sim, cinquenta, todos os dias. E eu me espantava a cada dia mais com a forma grotesca e ao mesmo tempo tão delicada deles de lidar com o mundo. Tudo tão mais simples, tão mais sincero, desapego. Quebrou? Compra outro. Rasgou? Rasga o resto. Divórcio? Próxima! Não, eu não era uma puta qualquer, muito menos um prodígio que consegue ter cinquenta clientes em um dia. Eu era apenas uma Engenheira Civil que comandava uma obra com cinquenta homens. 
Deveria ser pré-requisito para boa parte das mulheres conviver no meio de tantos caras. Aprender a ser um pouco mais firme, menos tolerante, mais racional, menos implicante e muito mais livre. Sim, eles se permitem a uma liberdade maluca ou um tanto nojenta. Simplesmente seguem a filosofia de que "o que coçar, será coçado" e no caso dos meus queridos construtores, não basta olhar para a menina, tem que comunicar ao mundo todo que ele é muito gostosa ou que o carinha meio alegre passando é viado... Eu também os achava nojentos, mas, depois de conviver digo que sinto até um pouco de falta. Eu me diverti muito e aprendi a ser mais masculina. É muito mais fácil e melhor dizer o que se pensa, fazer o que a vontade mandar, não ser hipócrita e aderir a teoria de que tudo o que é bonito é pra se mostrar e sem perceber, muitas vezes, eles seguem isso muito bem. 
              Tudo bem que são frágeis, não conseguem suportar uma dorzinha sem fazer fiasco. Nesse ponto nós mulheres estamos de parabéns. Mas, o que me irrita é que mulher grita pra tudo. Quando algo cai, quando leva um susto, quando está com medo, quando briga e até quando... Enfim, não consigo compreender qual seria o efeito do grito. Já os homens não sofrem desse mal. Tá, eles fazem fofoca, mas não em um nível tão maldoso quanto uma mulher. Chamam o cara de corno na frente dele e quando querem algo, tipo folga no feriadão, conseguem se unir. Acabei por conceder a tal folga, eles me conquistaram a cada dia com esse jeito estúpido e mal educado. Sim, eu gosto de pessoas educadas, mas o que me chamou a atenção foi esse desapego, essa leveza, que ás vezes vinha em forma de selvageria. Eles comem desesperadamente, sem preocupação, não passam protetor, não cuidam do cabelo, não gastam com milhões de cremes para a acne, erguem uma barra de concreto como se fosse uma pena e muitos até carregam um pedaço de concreto no peito. Quanta praticidade! Obrigado, por favor, com licença, nem sempre fazem parte de suas vidas, eles choram, defendem suas fêmeas, fazem amigos em fração de segundos, marcam churrasco e futebol, convidam os outros quarenta e nove para comemorar um aniversário e são muito mais felizes, enquanto nós perdemos dias com mágoas, lágrimas e clichês que não fazem a menor diferença. 
              O prédio ficou lindo, a obra acabou e em mim se fez uma muralha de muitos metros, uma pitada de testosterona, animação e cerca de três quartos de desapego. 

Com carinho...

Meu caro,


Nem sei de onde veio, nem pra onde vai. Só sei dizer que seja pra onde for me leve junto. Me dê direito a quinze, vinte, quinhentos minutos com você. A eternidade de repente seria pedir demais, sejamos doidos, mas realistas e conscientes de que só o tempo pode definir o tempo e os porquês de estarmos juntos. Sonhar não custa nada, nem ter pensamentos bobos diante da luz da lua que é tão imensa quanto o que podemos sentir. Nada pode ser maior que o brilho dos olhos, que a força que une as mãos ou que a sinceridade da parte de ambos. Sei que não temos certeza de nada, nem de que o céu é azul, nem que seremos sempre felizes. Façamos tudo o que a vontade quiser e sejamos cúmplices enquanto existir um "nós". Não me atrevo a dizer que somos feitos um pro outro, já que de metades ninguém sobrevive. Entre para jogar e fazer  seu melhor, façamos o melhor pelo que acreditamos. Aliás, eu acredito e você? Respeito deve ser infinito acima de tudo e comigo não há regras, nem correntes que te prendam sempre a mim. Estar junto não significa estar preso, nem ser escravo. É querer estar com alguém que queira estar com a gente e só. Se achares que queres seguir teu caminho, avisa. Vai sem mim, mas leve lembranças boas e o pensamento de que tudo vai recomeçar com outrem. Diga a ela para que cuide bem de você, não conte sobre o que aconteceu, finja que esqueceu de mim. Mas, antes de te dar carta branca para partir, antes que algo possa ser iniciado quero apenas pedir para que apareça e bata na minha porta. Tudo isso seria perfeito, se eu soubesse quem és.


Com carinho para um desconhecido.

( Dedico esse texto para um casal de amigos, pelo qual eu torço muito e acho que independente de estarem juntos ou não, serão sempre inesquecíveis.) 



Menino


               Que tempo estranho faz lá fora. Ora tempestades, ora sol ardente. Tempos que nos fazem grandes ou pequenos, que renova ou queima a pele. Tempos que vem e vão. Depois de tantas enxurradas o menino aprendeu a fechar a janela e apenas observar a chuva. Chorar não se tornou inválido, mas um gesto raro para expressar tamanha emoção ou descarregar a matéria. Nesta página do diário deixo registrado que o menino cresceu um pouquinho e, embora não possa ser considerado experiente, já sabe um pouco de malícias e maldizeres. Não se pode evitar a mágoa... Assim, como não se podem prever as glórias.
                Menino pula feito doido, agora sorridente, comemorando a justiça feita pelo velhinho. Não são amores que o emocionam, mas a capacidade de aprender a trilhar um novo caminho. E, agora, de mãos dadas com  pensante, meu coração menino encara a vida com mais força. Agradecendo a cada dia por abrigar novas pessoas, aprendendo a não se deixar levar pela promessa e deixando de lado a vontade de "bater". Ninguém precisa agredir para revidar as pancadas que levou, existe um velho justiceiro que está sentado a observar a ação de cada menino como o meu. E não é na infelicidade do outro que mora a realização, mas sim no poder de superar as próprias expectativas. 

Não mais acuado o menino abre uma fresta da janela, anda fazendo sol lá fora e que bom. Nada é para sempre, nem mesmo a tristeza. De amores não se sabe, nunca mais se ouviu falar. E enfim, que seja assim até a próxima estação, já que nada é para sempre.  

Desabroche, não broxe...

           Quando semente, nem se sabe no que vai dar, se vai vingar ou não, não se sabe... O fato é que mesmo diante da incerteza do futuro, tratam de regar a terra. Em alguns casos, a água é mais escassa e em outros mais abundante, mas a vontade de regar é a mesma. Nenhum sujeito que semeia quer ver a sua planta murcha ou em sofrimento. A semente cresce, vira cravo ou rosa. Desabrocha a cada dia, adquire folhas ao longo do tempo, aumenta seu nível de clorofila e adquire condições de se virar sozinha. 
            Uma bela plantinha se abre. E quando jovem parece que é inatingível, que rugas nunca ocorrerão, problemas de seca e hipertensão jamais atingirão. A regra é se divertir e anular as regras. O medo do escuro se vai e a medonha da planta só quer saber da fotossíntese e absorver o brilho que a noite traz.  O jardim parece apresentar somente maravilhas, sem contas para pagar, sem a obrigação de ter um emprego e com o empenho voltado em ter ao menos uma gotinha de responsabilidade, interesse em aumentar o porte para garantir mais sustentabilidade. Afinal, um dia o velho jardineiro se vai e só resta a planta. Portanto, aprender a sobreviver é importante. 
            Os dias de sol vão passando e de repente ocorre uma seca. O caule murcha e nasce no peito o primeiro espinho. O primeiro de muitos ! E é aí que a consciência de que ninguém é invencível surge, sinal de que houveram mudanças e que aquela sementinha travessa não existe mais. E tudo o que é feito acaba gerando uma consequência, inclusive amar. Estar plantado na terra não significa estar parado e sim vivo, significa que por mais que haja ali um bom sujeito, a incerteza vai acompanhar pelo resto dos dias. Não se sabe qual o próximo passo, a próxima seca, a próxima enxurrada ou a época de poda. O segredo é ir vivendo e reinventando a cada dia. 
                Uma andorinha só não faz verão, mas duas podem gerar um resultado tremendamente positivo. Quando uma planta brota, nascem as novas sementes, as novas possibilidades e chances de mudanças mundo a fora. E é aí que a roda costuma emperrar. Você se acomoda e dá passagem para tudo aquilo que lá na juventude você achou que não iria existir. A tia Bete passa a te visitar e traz consigo a hipertensão, a tendinite, o velho pane no nervo ciático e todos aqueles problemas que todo mundo têm. É corriqueiro, é clichê, eu diria. E É CULPA SUA, ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE SUA ! A idade está nos olhos de quem está por trás do espelho, está em quem senta, se acomoda e esquece que está no comando de um simples aparelho de celular. E daí pra tudo depende do "fulano" e acha que quando recebe uma mensagem é sinal de que a joça estragou. Não, é só preguiça sua de pensar, é comodismo e cansaço, sim eu sei. Só queria te dizer para levantar daí, porque o número que vai atrás da tua identidade é só um certificado da tua experiência. Se arrume, se embeleze, faça caras e bocas diante do espelho, namore, transe e se descubra - esteja você nos quarenta, cinquenta, cem. ESQUEÇA DE TUDO, SÓ NÃO ESQUEÇA QUE A VIDA É UMA SÓ !

"Faça de você uma árvore plenamente verde e deixe a semente que há dentro de você agir como se o amanhã não fosse existir."


O português do amor

           No amor não existem acentos, pois de pé se vai mais longe. Sentar-se é se acomodar, permitir que você se torne a oração subordinada do relacionamento. Na verdade, uma relação saudável não necessita de uma oração principal, já que cada uma diz aquilo que deve dizer, sem que a outra perca o sentido e sem fazer com que a sua oração perca a razão. Ambiguidades não são bem vindas, uma frase é linda quando é clara e objetiva. Diga aquilo que realmente é, não invente delongas para demonstrar um sentimento regado de hipérboles e inverdades. O amor não é feito de máximas e sim de mínimas que fazem toda a diferença. Sim, os detalhes salvam ou ferram tudo de vez. 
            Metáforas engrandecem, garantem romantismo ou mascaram certas frases. E tudo que é mascarado não é bem vindo. Evite metáforas e cacofonias exaustivas. Depois de um dia de trabalho o silêncio cabe aos dois, mas, um bom diálogo cabe nessas horas. Catacreses sempre são bem empregadas, quando atingem o pé do ouvido. Eufemismo também funciona, diminui certos impactos, dando mais suavidade a qualquer situação que pode soar desagradável. O paradoxo é inevitável desde a época de Shakespeare, em que "amor é fogo que arde sem se ver e ferida que dói e não se sente". 
               Um bom relacionamento requer o prazer que pode ser expresso por uma aliteração de ruídos, no clímax de uma colocação bem feita ou aquele que surge diante do apagar das luzes. Mas, infelizmente eu insisto em dizer, que casal nenhum sobrevive apenas de momentos ocultos e prazerosos. Explicitamente deve haver concordância, tópico frasal e o como objetivo a felicidade de ambos. Jamais utilize assíndetos, nunca omitas as preposições; mas, contudo, porém entretanto, não importa quais forem as de sua preferência, exija explicações concretas, não se deixe enganar e não permita enganar a si mesmo. A sinceridade deve partir do seu interior antes de tudo, vírgulas servem para garantir algumas pausas necessárias e que fazem pensar em tudo o que pode ser melhor.
                A linguagem não precisa ser formal, a regra é que os dois se entendam e que haja um exagero de respeito, doses moderadas de carinho e uma pequena ironia, só para que o romance não perca a graça. Um verbo mal conjugado, é problema não certa! Evite pensar no que foi ou no que será, lembre-se sempre do modo infinitivo - que garante a infinidade da relação e demonstra o quanto é importante ela existir  e não o que já existiu e deixando de cogitar a hipótese de que outras existirão. Não me importa se o futuro é do presente, do pretérito, aliás o pretérito é o que menos deve preocupar, pois o presente é o melhor tempo. E por falar em tempo, tire um pouco para si e jamais deixe a sua felicidade de lado. Amar é buscar a felicidade mútua, aliada ao conforto de ambos e bem estar - e se não for assim, dispense as vírgulas e ponha um bom ponto final. 

Costume

Se eu chorar, não quero que me console com meias palavras. Não quero que utilize meia palma de uma das suas mãos para secar uma lágrima minha. De repente eu chore de fraqueza, de repente eu sofra de um mal tão comum e que com certeza você conhece bem. E pode me chamar de fraca, pois é isso que somos. Frágeis. Somos tão vulneráveis, que sofremos por algo que não vemos, algo que julgamos existir e sentir em algum momento. E como ia dizendo, não quero saber de nada que for pela metade. Se for para viver em meio termo, prefiro o nada. Já que me é de costume não ter o que partilhar, nem com quem. Já que me canso dia por dia, cama vazia, sala cheia e sempre sem ninguém. Por fim, te ordeno me virar as costas e partir para onde encontrar aconchego, preciso e devo cuidar de mim e só ir, ir só.

Por trás de um pequeno homem...



     Eu a conheci no verão passado. Não foi na beira da praia, nem em um parque, muito menos em um dia lindo de sol. Era um dia normal, nublado, pra ser sincero. Eu estava a trabalho, naquele dia tinha uma visita agendada no hospital de uma pequena cidade. Antes que se pergunte, sou representante de um fabricante de medicamentos e afins. Eu estava estressado, cansado e atordoado. Cheio de coisas para fazer, eu estava prestes a me casar com a Jessica. 
      Muitos pacientes, aquele corredor que parecia imenso para as minhas pernas cansadas, fui até o departamento 13 a procura do Dr. David, como de costume, e para o meu azar, ele não estava lá. Me dirigi a recepção e lá obtive a informação de que ele estaria no 19, onde fica a maternidade. Me dirigi até o local, ou melhor, onde eu achava que era o local, já que me deram a informação errada. Entrei no departamento 17 e comecei a vasculhar de porta em porta, para ver se achava o vivente. Abri a sala 203 e lá estava ela, deitada, sozinha - acabara de cortar o cabelo - chorava muito. Entrei e deixei para o lado de fora todos os meus problemas, tudo aquilo que eu pensava ser um problema. E como nunca havia acontecido, me comovi com a situação de uma pessoa estranha. Ela estava simplesmente linda. Cor da pele, sem maquiagens. Unhas curtas, cílios grandes, o lindo sorriso que abriu para mim e aquele olhar de quem luta a cada dia para salvar a própria vida. Meus amigos me perguntaram o que eu vi naquela mulher, sem cabelos, com câncer, com o risco de dormir e não acordar. 
           Mal sabem eles que eu vi ali uma mulher forte e você também pode me achar louco, mas eu a vi como uma mulher atraente, elegante e que possui muito mais do que cabelos longos. Alguém que mesmo do jeito mais natural que pode existir, consegue ser radiante. Enfim, quando digo que deixei tudo para o lado de fora daquela sala, me refiro a Jessica inclusive. Eu descobri que o que havia entre nós era uma coisa tosca, que a gente chamava de amor, e que infelizmente não passava de algo tosco, vazio. Não havia admiração, não havia emoção. O que sustentava aquela relação era uma atração física ou um comodismo tremendo. Jessica é linda, mas não apresenta nada mais além disso. 
            Obviamente, ficamos juntos. Logo, dei um jeito de adaptar meu apartamento e a minha vida para receber a Isadora. Ela chegou a vir morar comigo. Abri mão de muitas coisas, mas nenhuma delas me fez falta a ponto de me fazer desistir dessa nova vida. Pelo contrário, cada superação e sinal de melhora dela é uma vitória pra mim. Ontem ela retornou para o hospital, reiniciaram as sessões de quimioterapia e lá vou eu. Arrumar minha malinha e fazer do hospital o meu lar. Vou cuidar do que é meu, da mulher mais linda que já vi, daquela que fez de mim o que eu achava que era: um homem. 

"Aprendi que não tinha problemas e que a minha Isa, me trouxe com os problemas dela, todas as soluções me que faltavam."

Conto de falhas

        Eu inventei tantas histórias para evitar falar de mim, feito um palhaço que pinta o rosto para ganhar seus dias.     E quantas vezes eu contei amores que não eram meus, só para aliviar o excesso daquilo que já não cabe no peito. Foram muitas. Cada uma de um jeito diferente, com uma nova roupagem, todas sinceras. Mas, quero dizer que sim, escrevi bastante sobre o que vivi, relatei cada fase. Relatei cada pétala das rosas que um dia me enfeitaram a mesinha e que agora foram lançadas ao vento. Relatei cada retrato, cada canção. Cada poema escrito, cada sopro nas feridas, cada beijo adocicado, tudo - absolutamente tudo foi registrado - e como disse: até mesmo o que não vivi. E o que me enche os olhos é simplesmente o fato de ter passado mensagens, encantado e até ter feito parte de alguns capítulos de vidas, que assim como as minhas histórias, não são minhas.


"Para não dizer que não falei das flores"

Foto do arquivo pessoal.
             Da janela observei o jardim, a beleza das flores. Elas transparecem uma delicadeza, um ar de fragilidade, de quem deseja cuidado. A gente têm o dever de regá-las e regamos. Mas, nunca paramos para observá-las, acompanhar de fato o seu crescimento. As cores as enfeitam e elas por si enfeitam e perfumam os ambientes, as rimas, os romances e até mesmo trazem uma certa leveza à morte. Quanta qualidade carrega uma flor. Seus espinhos, substâncias alucinógenas ou tóxicas são suas defesas. E como é confortável para nós julgarmos a elas pelas características "negativas" que carregam. O fato é que a gente não valoriza, a gente passa pelo jardim e nem enxerga. O ser humano não é capaz de perceber que apesar de transparecer fragilidade, as flores são mulheres fortes que sobrevivem às mais terríveis tempestades e ainda assim, conseguem se manter vivas, lindas e prontas para enfeitar o que for. Pena que os homens não às enxergam assim. Apesar da imobilidade, elas estão em todos os lugares, mesmo que algumas mais murchas, outras mais faceiras, jovens. Levam em suas folhas e galhos a alegria de se exibir, de colorir a vida. As flores mais antigas carregam consigo a experiência, aquele pólen mais forte - que encanta qualquer beija-flor que se preze - enquanto as mais mocinhas se exibem fechadas, deixando implícito o seu charme, se aprontando para um dia seduzir os olhos de quem sabe apreciar e preservar suas pétalas. Por fim, eu me arriscaria até a dizer que as flores são importantíssimas, vitais e o que me magoa é que elas possuem o defeito imperdoável de não serem eternas. 

"Jamais pise, arranque ou maltrate uma flor. Ela pode te espetar."


Chocolate amargo

            Me senti triste quando você partiu. Me senti no chão, como pneu quando está vazio. Chorei bastante, emagreci uns quilos. Enfim, foi aquele drama mexicano que todo mundo conhece. Afinal, quem nunca amargurou uma fossa? Quem nunca passou por isso? Lamento em dizer (para os que ainda não passaram), que seja de um modo mais explícito ou de um modo mais discreto, um dia você vai passar por isso. O engraçado foi que, mesmo protagonizando aquele dramalhão todo, eu parei para pensar e olhar ao meu redor tudo o que sobrou, o que ficou, o que eu poderia consertar. Eu sabia que tinha de começar do zero e cheguei à conclusão de que para ver tudo de pé, outra vez, eu deveria me mexer. Naquele exato momento tirei o casaco, peguei a tesoura, passei nos cabelos. Mudei a cor do batom, abri as janelas de casa - arejei as ideias - e refletindo cheguei à conclusão de que a gente não pode ficar se condenando por ter vivido uma situação que não foi legal. Não foi legal? E o que falta para viver algo legal? Arriscar. 
              Sair de casa é bem importante, estar ao lado dos amigos, mas o melhor remédio é enfrentar a situação de frente. Encarar a pessoa que te magoou, olhar nos olhos dela, demonstrar pro mundo como você se sente. Esconder, mentir, se enganar nunca fez bem. Escorada na sacada do meu apartamento pude lembrar de uma velha amiga, que perdera dois filhos dos três que tinha. Baixei a cabeça e pensei: sair de um relacionamento, quebrar uma amizade ou até mesmo a morte de alguém querido, realmente magoa - mas não mata! Nem a perda de um filho é fatal. Tudo é capaz de se regenerar. Somos bilhões e é impossível que não haja um outro alguém para estabelecer uma amizade, um relacionamento ou até mesmo amar independente de qualquer coisa. Quantas pessoas traídas existem, quantas mulheres agredidas... Ninguém morreu. Porque o sofrimento faz parte de nós e em qualquer tipo de relação humana o que nunca deve existir é o sentimento de perda, o que fica é apenas saudade de tudo o que valeu à pena e lições que vão fazer crescer. 
              Depois de pensar em tudo isso, enfrentar, te encarar os olhos. E finalmente me perguntar: o que eu estava fazendo comigo? Autodestruição? Não sei, não me importa. Eu prefiro dizer que eu estava provando um doce - que de fato não era doce - e essa experimentação serve para que eu nunca mais prove esse mesmo doce, aliás isso tudo me estimula a procurar por outros doces e saber valorizar aquele que for de fato o meu predileto - aquele que for feito com ingredientes que vão muito além de "carinho".

Amor e ponto final

E foi exatamente assim, eu sentada diante de uma lareira, com pensamentos, cigarro, vinho. Você chegou sem pedir licença e me pegou a mão. Nem fechou a porta, entrou de pressa - como quem quer salvar uma vida - e no nosso caso eram duas vidas salvas. Sinceramente, eu já havia desistido. Eu já havia comprado passagens para um lugar distante, onde eu pudesse me refugiar, viver uma outra história. Mas, você me agarrou pela cintura e sem nenhuma palavra sorriu. Foi o melhor sorriso que recebi, sem dúvida. Não era o mesmo sorriso de tempos atrás. Era um sorriso mais vivo, transparecia a alegria de me ver, de estar ali. Foram alguns minutos assim, como duas crianças nada afoitas, dois olhares que se reencontraram - se redescobriram! Antes do beijo jogaste um papel na lareira, lembras? Era o teu contrato de casamento. A partir dali te declaravas livre. E aí sim, nos beijamos até a eternidade. O vento batia em nossos cabelos, mas não era um vento capaz de apagar o fogo da lareira, nem aquele que estava em nós. Aquela velha chama reacendeu e quem diria, eu ali reciclando um sentimento antigo. Dizem que quem gosta de velharias é museu,  mas eu diria que para um coração que ama, um amor nunca será velho o bastante para não poder ser recuperado. Ao contrário do que se pensa, o amor quando é verdadeiro se renova a cada dia, somando tudo, fazendo de nós inseparáveis (até mesmo quando separados). Foi exatamente assim que recomeçamos e parece que foi ontem. Mudaste tanto, deixaste a solidez para arriscar comigo uma vida desordenada, a melhor desordem que eu poderia ter. 

Sobrenatural


      Prefiro dizer que se trata de uma meia verdade. Meias mentiras me desagradam, tanto quanto uma mentira inteira, tanto quanto qualquer coisa que venha pela metade. Metade verdade, meio suspense, um pouco de cada para dar sabor a vida. Um sabor novo, sem definição de doce, salgado, levemente amargo. Eu diria que se assemelha a uma frase cheia de vírgulas, semelhante a essas que compõe esse texto. Frases que me dizem tantas coisas que se espalham, que ganham e perdem sentido em fração de segundos. Frases e palavras que compõe a mensagem, que vai se redigindo até o momento em que ocorre uma pausa. Sem ponto a frase termina, sem sentido. E o que resta é decifrar, é ler, pescar o que se quer dizer. O que resta é optar por descruzar os braços e correr enquanto é tempo ou sentar e deixar passar. Não basta saber, deve-se acreditar e procurar responder certas questões para si. Feito linha no tecido, tudo vai se cosendo, se entrelaçando e causando uma série de dúvidas. Dúvidas cruéis, meias frases, meias palavras que se fundem, que se chocam e colidem por serem providas por uma energia que nos doma, de modo sobrenatural

Quem sabe?

         No envelope eu pus todos os versinhos, as carícias, as palavras de amor. No envelope encontram-se antigas razões, frutos colhidos pela doce ilusão e os desejos mais sórdidos. As cartas que não entreguei, o e-mail impresso, que não enviei e toda minha ternura. Anexei ao retrato toda a minha delicadeza que pede para sair daquela caixa preta. As pétalas secas de todas as rosas também estão ali, regadas com cada lágrima derramada. O beijo, o gosto, o amasso e, sobretudo o corpo, eu enterrei em um jardim longe daqui. O coração continua batendo, batendo e só. As canções eu canto só, quando só as paredes podem me ouvir. Eu canto baixinho, afinado. Eu canto para aliviar a alma, para me fazer sorrir e para me recordar de tudo o que havia aqui, antes de ti. Cada passo deixa uma pegada na minha estrada, cada pegada uma marca, um registro. Cada passo me deixa sem certeza, mas me dá uma esperança diferente. Mas, tudo depende do dia,  que se cinzento como hoje - só me traz lembrança tua. E, por falar em ti, já não sei quem és, de onde veio, nem teu nome. Nem teu cheiro conheço mais. A grande verdade é que congelou tudo o que era fogueira, mas, quem sabe um dia talvez eu aqueça, quem sabe eu me renda para o mais perigoso bandido, quem sabe eu me renda de novo - para o amor.

Dualidade constante


       A vida é curta e de uma complexidade incontestável. Podemos até dizer que viver é fácil, mas na prática, não funciona bem assim. Como tudo na vida, teoria e prática se diferem em alguns instantes. O fato é que pintamos e bordamos a vida, são cores, muitas cores que pintam os nossos planos. Traçamos tantas metas, quando jovens. Sonhamos, de repente, com o impossível. Sonhamos. O fato é que gostamos de pintar a vida conforme o nosso sonho, conforme a ilusão. Esquecendo a verdadeira cor que a vida tem, deixando oculto todos os trechos preto e branco que vamos percorrer, porque na imaginação viver é mar de rosa, colorido. A perda é o lado incolor da vida, tão sem graça, impertinente, desagradável. Mas, embora desagradável, não existe alguém que não vai perder alguém importante. Isso mostra o quão não estamos preparados para perder, sofrer. A derrota é o lado negro da vida, é a parte da vida que nem passa perto de nós nos nossos sonhos, mas ela ocorre para todo mundo, em algum momento. A gente nunca sabe quando, mas o fato é que haverão decepções, frustrações, brochadas. E outro fato bem importante é que sim, todos nós vamos ter os momentos de arco íris, de alegria extrema, de plenitude e satisfação. Isso tudo simplesmente porque a vida é uma constante dualidade, é uma cartola que reserva coelhos, incertezas, mudanças ou vitórias. Viver é basicamente acordar todos os dias sem estar preparado para o que vem pela frente, para que possamos aprender a cada dia a chorar ou sorrir, para que possamos ser conscientes de que esta noite qualquer um de nós pode acabar o dia com lágrimas nos olhos e iniciar o dia de amanhã com um lindo sorriso. Viver é estar ciente de que nem sempre se perde, nem sempre se ganha e que o importante é que se aprende a cada dia de vida, o importante é o que deixamos para as próximas gerações.

Percurso


Estava no ponto de ônibus, o táxi passou, - estava ocupado - a demora era tanta que resolvi ir a pé. De passo em passo, pela beira da praia tomei meu rumo. Observei cada detalhe, as montanhas ao longe, o céu. O sol imitava teu sorriso, a lua teus olhos e o vento soprava fazendo voar teus cabelos, na minha doce imaginação. Tantos nomes fui escrevendo na areia. Uma infinidade de rostos e gestos eu pude imaginar, enquanto andava. De repente, fazer o percurso de táxi não me causaria o mesmo efeito, não me permitiria sonhar - de novo. Talvez, não me permitiria criar esperança de coisa qualquer. E sim, eu estava ali remoendo todos os sintomas da minha impaciência, do meu tédio. Eu estava apenas tentando, mais uma vez, adivinhar como vai ser ou quem de fato está por vir ou ainda, se eu deixei de ver quem aqui está. Em cada estrela eu pude ver algo bom, uma qualidade tua. Em cada gota de chuva eu pude ver um defeito teu, que me gela, me molha, mas não me mata. Em cada dia eu me imaginei pegando a tua mão, te fazendo um poema sem rima. Já caminhei bastante, continuo caminhando e vou seguir. Sem certeza, sem expectativa. Apenas, com roupa do corpo e um violão. Quem sabe você se encanta? Quem sabe alguém me ensina uma canção? 

Sobrevivente

           Eis aqui alguém que voltou da guerra, que tentou fazer amor, que se viu plenamente feliz. Eis aqui o retrato de quem retorna, de quem esteve por vezes ferido, de quem esteve quase morto. E eis quem traz nas costas uma carga de experiencias, de noites mal dormidas, de paixão não esquecida e alma enriquecida. Há quem diga que fora em vão guerrilhar, há quem diga que devo esquecer, assim como houve sempre alguém que dissesse que eu não iria voltar. Aqui estou eu, provando que toda a tentativa é válida e que só acrescenta. Se doar, amar, contestar, também pode ser sinônimo de aprender. 
           Eis aqui alguém que lutou, não sabe se perdeu ou ganhou, mas no bolso trás apenas uma certeza. A certeza de que embora hajam feridas, nunca deve-se desistir de tentar, retentar ou triplitentar se for o caso. Pois a vida consiste em amor, querendo ou não se resume em amar.

Desconfiguração



Costumava me programar antes de fazer as coisas, parei desde que me dei conta de que não dá certo. Contar com a sorte de vez em quando parece interessante, garante uma adrenalina maior, um melhor aprendizado e aquela sensação gostosa de frio na barriga. As coisas mais incertas garantem uma pontinha de desespero, abre portas para desafios e ainda nos torna mais capazes de lidar com imprevistos. E se não der certo? A gente senta e chora? NÃO! A gente levanta e dá um jeito. Trabalha de pedreiro, carpinteiro, entrega panfleto, inventa, tenta, tenta de novo. Lamentar não é um sinal de fraqueza, mas uma pequena falha na sua confiança de que é possível dar certo. E por falar em dar certo, essa foi outra coisa que resolvi tirar da cabeça, afinal nem tudo dá sempre certo, nem tudo tem que dar certo. O que é devidamente certo? Não sei... O negócio é café na veia e virar a madrugada se for preciso, comprar uma passagem aérea de última hora, conhecer lugares, conquistar novos sorrisos, dizer tchau, jamais adeus - nunca se sabe o que vem pela frente. Não digo que sou constantemente irreverente, mas talvez agora madura o suficiente para contornar certas linhas tortas. Hoje, costumo simplesmente ir rascunhando a vida, sem me preocupar em passá-la a limpo. As maiores burradas, garantem as melhores histórias. 

Armadilhas do tempo

            Certo dia, resolvi que a partir daquele momento as coisas iriam mudar e finalmente fluir para mim. Sempre me considerei complexo o bastante para ser compreendido por  alguém, ou uma pessoa necessariamente estranha por natureza, provido de tortuosidades e irregularidades. Anos se passaram, a idade aumentou, pessoas se foram, amigos permaneceram, amigos descobri. E de repente tudo foi acontecendo da maneira mais estranha, mais inusitada, incerta. Afinal, os amigos que descobri foram justamente aqueles que jamais imaginaria. Pessoas comuns, mas especiais pela simplicidade que possuem. Não sei explicar o que aconteceu, um coração simplesmente acolheu o meu. Alegria frequenta meu corpo, a felicidade resolveu passar um período além das férias, por aqui. O tempo vai voando, mudando, trocando as pecinhas de lugar e encaixando conforme deve ser. E tem sido assim, nem sempre perfeito - mas pra tudo tem jeito - e é exatamente isso que dá um tempero, um tom de adrenalina e frescor para os momentos. Entre as colinas do destino é que encontram-se as maiores surpresas, armadilhas, o maior amor e sobretudo a felicidade. E dessa nova fase a mais importante lição que aprendi, é que não foi preciso deixar as minhas calcas soltas, meu cabelo desgrenhado, meu óculos de grau para ser aceito ou incluso na vida de alguém, simplesmente aconteceu, nem sei quem escolheu, mas só tenho de agradecer. 

''Para ser feliz, basta ter amigos''.

Cheiro de pecado


     Um rastro de perfume passa por mim, todas as manhãs, no corredor do prédio. Desce ao meu lado no elevador e se despede no box vinte e seis da garagem. Não conheço o seu dono. A única informação que tenho é que aquele cheiro não me engana. É de macho! E macho daqueles... Ouvi dizer que o bendito dono do perfume mora no andar de cima, não sei se é solteiro, nem se é alto, baixo, retangular ou moreno. Achei estranho pois, nunca o vi. Confesso que ando curiosa, imaginativa e um tanto envaretada. Todas as manhãs enfrento a queda de nove andares ao lado daquele aroma que deixa o dia mais gostoso, com ar de ousadia. Às vezes penso que é melhor esquecer, tentar descer pela escadaria - assim, já exercito os glúteos e respiro novos ares - parar com essa ilusão, com essa infinita espera. Tento me convencer que os quinze já passaram e a imagem daquele professor/personal espetáculo de olhos verdes, aquele pacote de músculos ambulante não existe, nunca vai existir e muito menos morar no meu prédio. Tento, tento e não consigo deixar de desenhar lábios rosados e carnudos, olhos brilhantes, cabelos desajeitados e uma colher de chá de charme. Apesar de querer conhecer esse ser, temo em encontrar um senhor de cabelos grisalhos, acompanhado de sua senhora, filhos... E, talvez por isso, prefiro me manter assim - COMPLETAMENTE LOUCA por esse cheiro de pecado - que me faz sentir viva. 

Professor na selva

               Um milhão de vozes sopram sem pausa, sem pena de mim; sem pena de si, o corpo berra, se debate, briga, xinga. Um milhão de palavras sujas, soltas, raiventas, malucas. Inibidas em um cérebro relativamente nada pensante. Fazer o que? Andar contra a maré me tira as forças, incendeia veias - feito palha seca, quando queima na lareira - deixa lesionada minha fonte de ideias novas e planos para um possível futuro. Não vejo nenhum, diante dessa oposição e resistência da máfia de preto e gravata. Talvez aqueles pequenos olhos azuis digam o que minha boca não consegue, se não for tarde demais. Quem sabe as coisas não mudam, quem sabe... Quando digo que já não penso, é porque não sei pensar. Desaprendi por zelo aos neurônios que ainda restam. O restante já retirado do acervo fora gasto com outras mentes, por vezes ocas, por vezes inexistentes. E já dizia o sábio - revolta gera revolta - sem mais! Assim, parei de tentar no momento em que percebi que a indignação estava liquidando inocentes mentes recém nascidas ou que ainda estão por nascer. Então, ao invés de enfrentar uma depressão nada meiga, resolvi contribuir com o que chamo de tentativa de reconstrução das mentes perdidas. Espalhando ideias feito bolhas de sabão, de trinta em trinta, de pessoa para pessoa, até que se calem as vozes - me gratificando com satisfação. Ah! Antes que me esqueça, espero que sejam plantados árvores de "nãos" para que não haja a extinção desta espécie, abolindo-nos da vida na selva para novamente haver civilização.
                      

Carnaval


      E dizem que entre quatro paredes vale tudo. Mas esqueceram de dizer que, na verdade, vale quase tudo. Não vale nada se for sem vontade,  nem se isolar para refugiar-se de problema sequer. Se com ou sem e até com quem, já é um problema seu. E nesse clima de folia, o que não deve faltar é paetê, pluma e purpurina. Grito, agito, gemido, prédio estremecido. Nada de samba, mas muito enredo. Um zunido no ouvido de quem dorme sozinho e se põe a sonhar conscientemente, talvez, com essa folia que não para. Talvez uma bela bateria desafinada para um ou outro vizinho de porta. Vai saber se o tamborim não anda soando mais que o normal - Afinal, tempos de CARNAVAL! Soma de desfalecidos corpos, de olhares tênues, nada discretos ou até infiéis . - Os quesitos são bem avaliados e no final sai ganhando quem tiver um conjunto melhor, todas as comissões no lugar e em ordem. Uma pitada de carisma sempre conta, atitude, objetividade e originalidade definem tudo. Nada de perfeição, o importante é imaginação. O amor e a arte são linhas paralelas, mas que ás vezes se entrelaçam formando fantasias, alegorias e histórias. E é exatamente nesse ritmo de alegria que deve começar a festa, mesmo que seja só na imaginação, pois como disse - vale tudo, inclusive sonhar.

Simples assim



       Talvez lutar para ser o melhor já não é tão importante assim. E já pouco me importa se minha presença é algo realmente interessante, se será marcante. E que se dane se minha voz irá causar um efeito retumbante, se minha imagem é ou não reluzente, se estou sendo nobre ou se passo despercebido. Sim, faço o melhor de mim, não desisto não. E sim, já não sei mais o que é ser o centro das atenções, me esqueci até se algum dia passei por isso. Afinal, agora o que me importa apenas é fazer tudo o que for preciso ser feito, ser simples, ser cordial. A quem eu realmente importar vai me notar passar. Quem realmente quiser ouvir, vai sim perceber a voz de modo retumbante e aqueles que realmente derramam um pingo sequer de amor ou algo similar por mim vão perceber o efeito da minha chegada, o reluzir de um sincero sorriso e sentir na pele aquele leve chuvisco de um nobre olhar.


"A simplicidade é o brasão que demonstra a nobreza de um ser humano."

Faxina

            Sabe quando você decide pôr um ponto final, um basta e dizer chega para tudo o que aborrece e faz chorar. É quando você subitamente acorda, levanta, passa a mão no cabelo e sai desesperadamente em busca de felicidade. Qualquer parada é perca de tempo e todo tropeço é aprendizagem. As chuvas de verão servem para refrescar a mente, manter vivo o objetivo e apagar qualquer sinal de fogo ou desistência. Nesse momento você bate a porta no nariz de todos os intrusos, passa um antivírus nos desejos, seleciona os números importantes, descarta tudo o que é incerto, muda a cor do batom, aumenta o salto, joga fora a caixa de lenços de papel e ainda toca toda aquela pinga no ralo. Agora é vinho do porto, revolver pronto e olho por olho, dente por dente. Tire o filtro do passador de café, filtre tudo o que for necessário, dispense a arrumadeira e faxine você mesma esse coraçãozinho, ponha o cinto, pois é hora de tirar o pé do freio! 

Sexo dos poetas

A porta se fecha, o silêncio paira sobre o ar do apartamento. Eles se beijam e tudo começa mais ou menos assim:

Um abrir de zíper quebra o silêncio
Na sequência um estouro de botões se incia
Com algemas ela o prende, doce suplício
Sem beijos, sem paixão, sem carícia

Uma gota ou duas de tortura
Três ou quatro goles de conhaque
Pra esquentar e livrar de qualquer frescura
Corpo quente, hora do ataque

Ela sobe, desce, inclina
Ele enlouquece, o piso estremece
Os olhos brilham e ela deixa de vez a menina
O ambiente se aquece

Mais um toque de malícia
E de repente o primeiro verso
Um ou dois arranhões, delícia
Numa cisma de vai e vem, modo inverso

Feito acordeon 
De verso em verso
O "trem" fica pra lá de bom
E no suor o corpo imerso

Sobe, desce, inclina
Enlouquece, estremece
Luxúria, satisfação, sina
Cala-se a sanfona, adormece

No dia seguinte relembra tudo o que foi feito
Prazeres somados, magia
Nove meses passados, não tem jeito
Nasce a antologia.



Saudade

Me diz,
Quem não tem saudade
De ser criança, aprendiz?
Quem não sente falta da menor idade

Do desapego,
De rir infinitamente sem motivos
Do sossego,
Que nem machucado tirava, nem curativo...

Que saudade!
Tempos em que as feridas
Eram causadas sem maldade
Sem essa coisa de ida, despedidas

Agora me apego, desespero
Sinto ferido meu interior
Sento, levanto e ainda espero
Seria tédio ou seria amor?

Mês de aniversário

       
          E foi assim entre poemas, crônicas, contos, tristezas, dúvidas, fatos reais, inventados que se manteve de pé esse projeto pensado e repensado durante muito tempo. Posso dizer que a missão até então está sendo cumprida, os objetivos alcançados, fatos relatados e muita emoção frente a essa página. Agradeço à todos os leitores por fazerem parte dessa ideia maluca, por agraciar esse cantinho com suas visitas e por fazer valer essa realização que era apenas um breve sonho, que se tornou realidade. Um ano se passou, tudo está aqui registrado, escrito. Espero que muitos outros anos venham com textos bons, com rimas e orgasmos que se multipliquem. Por fim, OBRIGADO à todos que prestaram o seu apoio, passam por aqui ou simplesmente dão uma espiadinha de vez em quando. 

1 ano de orgasmo !


Não apenas palavras

             Escrever pode ser um hobby, talvez um modo de se expressar, lavar a alma. Um simples passar de dedos no teclado ou um rabiscar de lápis no papel pode significar um dom, uma mania, uma tentativa de ser poeta. Escrever pra mim é assim como esvaziar a cabeça, quando cheia do mesmo pensamento. É como droga vicia e quando bate a necessidade... A mão treme e pede para mexer uniformemente formando palavrinhas.
              É mais que simplesmente rimar, do que falar de amor ou do que simplesmente jogar palavras ao vento. Ser escritor é conseguir emocionar o leitor de alguma maneira, dizendo verdades que ele gostaria de dizer, fazendo com que ele se identifique com o escrito. Poeta escreve de amor, porque escreve com amor. Eu escrevo para tentar passar de alguma maneira algo de bom ou prazeroso para as pessoas. Não sei se de fato emociono ou consigo realmente passar mensagens positivas, mas tento e com paixão. 
              Não importa se a história for minha, sua, da Maria. O importante é que está escrita e vai ficar registrada ali, em algum lugar, por longa data. Enfim, chega de conversa mole, tentativa de reflexão sobre esse mundo que me encanta. O importante é que acima de todas as coisas escrever é arte, independente de modo ou qualquer crítica existente. Agradeço a quem eu tiver de agradecer por essa força voraz que me faz escrever.