Por trás de um pequeno homem...



     Eu a conheci no verão passado. Não foi na beira da praia, nem em um parque, muito menos em um dia lindo de sol. Era um dia normal, nublado, pra ser sincero. Eu estava a trabalho, naquele dia tinha uma visita agendada no hospital de uma pequena cidade. Antes que se pergunte, sou representante de um fabricante de medicamentos e afins. Eu estava estressado, cansado e atordoado. Cheio de coisas para fazer, eu estava prestes a me casar com a Jessica. 
      Muitos pacientes, aquele corredor que parecia imenso para as minhas pernas cansadas, fui até o departamento 13 a procura do Dr. David, como de costume, e para o meu azar, ele não estava lá. Me dirigi a recepção e lá obtive a informação de que ele estaria no 19, onde fica a maternidade. Me dirigi até o local, ou melhor, onde eu achava que era o local, já que me deram a informação errada. Entrei no departamento 17 e comecei a vasculhar de porta em porta, para ver se achava o vivente. Abri a sala 203 e lá estava ela, deitada, sozinha - acabara de cortar o cabelo - chorava muito. Entrei e deixei para o lado de fora todos os meus problemas, tudo aquilo que eu pensava ser um problema. E como nunca havia acontecido, me comovi com a situação de uma pessoa estranha. Ela estava simplesmente linda. Cor da pele, sem maquiagens. Unhas curtas, cílios grandes, o lindo sorriso que abriu para mim e aquele olhar de quem luta a cada dia para salvar a própria vida. Meus amigos me perguntaram o que eu vi naquela mulher, sem cabelos, com câncer, com o risco de dormir e não acordar. 
           Mal sabem eles que eu vi ali uma mulher forte e você também pode me achar louco, mas eu a vi como uma mulher atraente, elegante e que possui muito mais do que cabelos longos. Alguém que mesmo do jeito mais natural que pode existir, consegue ser radiante. Enfim, quando digo que deixei tudo para o lado de fora daquela sala, me refiro a Jessica inclusive. Eu descobri que o que havia entre nós era uma coisa tosca, que a gente chamava de amor, e que infelizmente não passava de algo tosco, vazio. Não havia admiração, não havia emoção. O que sustentava aquela relação era uma atração física ou um comodismo tremendo. Jessica é linda, mas não apresenta nada mais além disso. 
            Obviamente, ficamos juntos. Logo, dei um jeito de adaptar meu apartamento e a minha vida para receber a Isadora. Ela chegou a vir morar comigo. Abri mão de muitas coisas, mas nenhuma delas me fez falta a ponto de me fazer desistir dessa nova vida. Pelo contrário, cada superação e sinal de melhora dela é uma vitória pra mim. Ontem ela retornou para o hospital, reiniciaram as sessões de quimioterapia e lá vou eu. Arrumar minha malinha e fazer do hospital o meu lar. Vou cuidar do que é meu, da mulher mais linda que já vi, daquela que fez de mim o que eu achava que era: um homem. 

"Aprendi que não tinha problemas e que a minha Isa, me trouxe com os problemas dela, todas as soluções me que faltavam."

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