Bagagem

             As malas estão prontas para a viagem, levo só o básico, o íntimo e o essencial. Levo o primeiro beijo, a primeira carta, o primeiro amor, o melhor amigo e alguns retratos da infância. No bolsinho estão alguns pequenos sonhos que ainda quero realizar, e logo ali quando abrir a bolsa verás que carrego uma Ana Júlia, uma Mallu e uma Daniella. Estão na superfície para que todas as vezes que eu abrir a bolsa terei a oportunidade de ver. Na mala maior carrego os meus acessórios essenciais e indispensáveis lembranças, sonhos já realizados, conquistas, um Luis e uma Sandra. 
              A necessaire traz alguns encantos, versos, beijos, o brilho e um Vinícius básico para dar um up. Enquanto na mochila carrego os colegas queridos, o conhecimento, as lições e as experiências. Vou apé, passo a passo e devagar, mas sigo sempre, vivendo, aprendendo e errando. Mas, para percorrer essa estrada tão longa que é a vida, você deve estar se perguntando se não é muita bagagem... Te respondo: não, não é. Ainda não citei, mas só para lembrar que levo um Érico, uma Andrea e um Léo, para todas as horas. 
              Para não esquecer de nada, fiz uma lista de coisas que preciso levar, verifiquei, verifiquei e vejo que ali estão um Luiz Eduardo, uma Nicole, uma Júlia e até um Ismael. E você deve estar se perguntando, e as tristezas, as mágoas e os problemas,  será que vou deixar de lado? Não. Vou levá-los na mala principal para me lembrar sempre das coisas que aprendi até aqui.

Liberarte 2011 - Primeiro Lugar na categoria poema

Abandono

Dois
Eu e tu transversais
Hoje, sempre, agora e depois
Entre beijos sobrenaturais
Quatro
Paredes sombrias
Na cama, no quarto
Pontas de cigarro, sala vazia
Seis
Coisas para fazer
Antes do adeus
Dias e noites, viver ou morrer?
Oito
Minutos para a partida
Televisão, filme, biscoito
Três, dois, um... Porta batida.


Liberarte 2011 - Segundo Lugar categoria poema

Bifurcação sexual

Filha do mundo sou
A beijar teus pés, ó Incerteza
Que reina sobre mim
Me pondo em dúvida sobre o que sou
Se rosa ou se azul
Enquanto de preto me visto
A escutar o Meio Termo
Que me deixa confusa
Entre amar a mãe ou o pai da minhas crias,
Entre esse pai gigante enfrentar
Ou a perpétua máscara me sujeitar

Nada sei

            Ainda não é fim de ano, mas as minhas regras dizem que devemos dizer algo bonito sempre que tivermos motivos. E eu tenho milhões de motivos para dizer o quanto aprendi nesses últimos meses. Aprendi a valorizar as pessoas, a deixar algumas coisas de lado, brigar com o medo sempre que ele quiser me impedir de algo. Aprendi que a vida é feita também de conflitos, que vêm e passam, deixando algo de bom. Agora consigo me olhar no espelho, talvez porque só agora eu consegui encarar a realidade, a idade. 
           Aprendi a dizer todas as coisas e assim, a utilizar toda a sutileza que o mundo me permite. Consegui assimilar também que nem sempre o sorriso é quem predomina, e sim a esperança. Finalmente me deixei admitir coisas que eu ocultei durante uma vida, me permiti errar, aprendi a não me arrepender e a aceitar certas coisas imutáveis. E cada uma dessas novas experiências, me fazem sentir como uma criança que dá os primeiros passos, que aprende a falar a primeira sílaba... Cada coisa que aprendi só me faz acreditar firmemente na frase de Sócrates, pois por mais que eu tenha aprendido eu ainda posso dizer que só sei que nada sei.

Presságio

        No calor da hora eu disse sim e me joguei sem pensar em consequência qualquer. E foi assim que tudo começou ou talvez foi assim que eu acho que começou. Afinal, eu não lembro como, nem quando, só sei que tudo mudou. Não houve juras de amor, não houve abraço, mas houve sorriso. O teu sorriso me acolheu de um jeito, que me tirou completamente a vontade de soltar. Mas que engraçado, aconteceu comigo, aquilo que eu jurei para mim que jamais aconteceria. Parece mentira, mas aquela vida inconstante, sem destino, de idas e vindas já não faz mais sentido. Aquilo que ontem era tudo, hoje é nada. O teu seio é meu berço e a rua só um lugar de visitação.
         Não sei se é paixão, não sei o que é e nem quero saber. Para que não haja o risco de me arrepender, para que eu possa aproveitar essa vibração. Ultrapassa o desejo, o sexo. É tão natural te olhar e conseguir dizer muitas coisas sem sequer abrir a boca, conseguir compreender os teus desejos sem a necessidade de que emita som algum. Me sinto criança a pisar pela primeira vez na areia a cada vez que estamos juntos. Sinto que saí da casca, quando sem querer disse "sim" pra mim.