Fragmentos

            No mudo das minhas palavras soltas e por aqui deixadas, me perco a pensar na alucinante situação em que me encontro. A confiança se perdera por algum lugar, não sei onde, nem com quem está. Enquanto isso a vida vai passando, o vazio me abraça e minha sombra muda deixa de me perseguir. 
         Completamente sozinha sigo o rumo desenhado pelo Supremo. Talvez as minhas luzes guias estejam comigo, talvez estou em um pesadelo e amanhã vou acordar e abrir a janela para a entrada de um lindo raio de luz. Quem sabe me resta esperar o mundo girar, para pôr todas as coisas no lugar, para aconchegar o sentimento no lugar certo. 
          Passageiro assim como as nuvens, será esse momento. Viera para me pôr diante de mim e dos prós e contras da minha errante existência. Na imperfeição me perco, mergulho e reconheço fragmentos de mim. Aqueles cacos de vidro que preciso colar, outra vez. 

Pretérito imperfeito

             Me pergunto eu se um dia não vou me arrepender. É, arrepender, por um dia não ter bebido até cair, por não ter feito mais loucuras, por não ter me deixado levar pela vida. Ás vezes, paro para pensar, se eu não vou vir a me arrepender e ter aquela crise dos trinta por não ter vivido mais amores, por não ter testado outras profissões, por não ter roubado aquele chiclete de bar, que estava dando sopa. 
             Ser tão careta torna-se difícil, cansativo, mas bastante gratificante. Porém, um tanto sem graça, sem grandiosas histórias para contar, sem lembranças desastrosas, sem grandes lições. Talvez eu já esteja arrependida por ter amadurecido assim, tão de pressa, se eu podia deixar isso para os quarenta. Seria tão mais gostoso, se eu tivesse comprado todas as revistinhas de moda e beleza que os meus treze anos pediam à minha alma, seria tão mais doce se eu tivesse me entupido de porcarias (balinhas fini, biscoitos recheados e doritos), também eu não usaria o meu sagrado trinta e seis. Estaria na calça quarenta!
             Mesmo assim até que foi gostoso. Quem nunca colocou meias no peito para fingir ter seios? Quem nunca se sujou com terra? Quem nunca caiu da escada? Quem nunca recusou um beijo, por vergonha de dizer que nunca beijou ninguém? Saudade... Muita saudade desse tempo. E, pensando bem, eu confesso que fui careta e certinha demais, mas bato no peito para dizer, que de nada me arrependo. 
              Há muito o que viver, muito do que se arrepender, muito a fazer. E já que falta bastante para os trinta, que tal dar um chute na responsabilidade de vez em quando? Que tal, brincar de esconder com o tempo? 
               Diversas aventuras passaram, mas quem foi que disse que acabou ? É tempo de recomeçar!


Ópio

Como pode? É, como pode, ser assim tão forte. E ainda há quem diga que o amor anda escasso, isso e aquilo. Tudo mentira, intriga de uma oposição que cultiva amor em si, mas que não achara a quem destinar. Concordo que ele está meio esquecido ou até comum demais. Talvez, se não me engano, as pessoas estão o confundindo com algo similar. Tudo o que parece ser bonito está sendo denominado amor. 
Com as mãos no vidro, nesse dia chuvoso, me pergunto eu... Como pode ? É algo que toma conta, sobe, desce, desfila dentro de mim e não me permite esquecer de nenhum detalhe, de nenhum momento, de nenhum traço naquele rosto. Criança sou outra vez a rir de tudo, brincar de esconder com a saudade que me faz vibrar a cada sexta-feira para ver o sorriso, para viver a magia. 
Quiçá tudo não passa de um sonho, quiçá. Ou será que estou a fazer como os meus companheiros desta tripulação, cuja denominação é mundo, confundindo flor com amor? 
Ora, esse amanhecer que brota aqui dentro a cada minuto, me renova de modo a me fazer querer viver mais e mais para ter a prova real, 
se é realmente amor ou mil vezes intensidade. Não sei ao certo, o que é, nem como é. Posso apenas dizer que é completamente maluco e informal, tão fora da antiga realidade esse ópio do bem que eu denomino felicidade.  



Insanidade Lúcida

              Intensidade é a palavra que descreve aquela noite. Sozinha, saí de casa, fui para a casa noturna mais próxima. Eu queria diversão, sair da rotina, buscar algo que eu nunca havia encontrado aqui no meu interior. Não, eu não buscava amor, mas uma sensação nova, queria uma noite para recordar sempre que a minha alma pedisse socorro. Logo que cheguei, tratei de dançar e buscar novas pessoas. Eu disse novas pessoas e não amigos. Apenas pessoas que pudessem fazer daquela noite inesquecível, afinal eu queria uma noite única, isto é, em um lugar inédito, com pessoas inéditas.
               A música estava ótima, as pessoas com quem me identifiquei eram agradáveis, mas nenhuma delas me fez tão feliz quanto dois conhecidos meus de anos, que encontrei. O Absinto e a Tequila. Eles me acompanharam durante a festa inteira e me fizeram sentir um orgasmo tão bom, que nenhum homem me fizera sentir antes. Talvez, nenhum ser seja capaz de me fazer sentir a alegria que eu senti naquela noite. Foi a melhor de todas!
Foto do arquivo pessoal
                Tais lembranças estão tão frescas na minha memória, que mesmo se eu tivesse me arrependido eu simplesmente faria tudo outra vez. Afinal, a vida é uma só, fugir da rotina e sentir-se vivo é o que há.