Pretérito imperfeito

             Me pergunto eu se um dia não vou me arrepender. É, arrepender, por um dia não ter bebido até cair, por não ter feito mais loucuras, por não ter me deixado levar pela vida. Ás vezes, paro para pensar, se eu não vou vir a me arrepender e ter aquela crise dos trinta por não ter vivido mais amores, por não ter testado outras profissões, por não ter roubado aquele chiclete de bar, que estava dando sopa. 
             Ser tão careta torna-se difícil, cansativo, mas bastante gratificante. Porém, um tanto sem graça, sem grandiosas histórias para contar, sem lembranças desastrosas, sem grandes lições. Talvez eu já esteja arrependida por ter amadurecido assim, tão de pressa, se eu podia deixar isso para os quarenta. Seria tão mais gostoso, se eu tivesse comprado todas as revistinhas de moda e beleza que os meus treze anos pediam à minha alma, seria tão mais doce se eu tivesse me entupido de porcarias (balinhas fini, biscoitos recheados e doritos), também eu não usaria o meu sagrado trinta e seis. Estaria na calça quarenta!
             Mesmo assim até que foi gostoso. Quem nunca colocou meias no peito para fingir ter seios? Quem nunca se sujou com terra? Quem nunca caiu da escada? Quem nunca recusou um beijo, por vergonha de dizer que nunca beijou ninguém? Saudade... Muita saudade desse tempo. E, pensando bem, eu confesso que fui careta e certinha demais, mas bato no peito para dizer, que de nada me arrependo. 
              Há muito o que viver, muito do que se arrepender, muito a fazer. E já que falta bastante para os trinta, que tal dar um chute na responsabilidade de vez em quando? Que tal, brincar de esconder com o tempo? 
               Diversas aventuras passaram, mas quem foi que disse que acabou ? É tempo de recomeçar!


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