O português do amor

           No amor não existem acentos, pois de pé se vai mais longe. Sentar-se é se acomodar, permitir que você se torne a oração subordinada do relacionamento. Na verdade, uma relação saudável não necessita de uma oração principal, já que cada uma diz aquilo que deve dizer, sem que a outra perca o sentido e sem fazer com que a sua oração perca a razão. Ambiguidades não são bem vindas, uma frase é linda quando é clara e objetiva. Diga aquilo que realmente é, não invente delongas para demonstrar um sentimento regado de hipérboles e inverdades. O amor não é feito de máximas e sim de mínimas que fazem toda a diferença. Sim, os detalhes salvam ou ferram tudo de vez. 
            Metáforas engrandecem, garantem romantismo ou mascaram certas frases. E tudo que é mascarado não é bem vindo. Evite metáforas e cacofonias exaustivas. Depois de um dia de trabalho o silêncio cabe aos dois, mas, um bom diálogo cabe nessas horas. Catacreses sempre são bem empregadas, quando atingem o pé do ouvido. Eufemismo também funciona, diminui certos impactos, dando mais suavidade a qualquer situação que pode soar desagradável. O paradoxo é inevitável desde a época de Shakespeare, em que "amor é fogo que arde sem se ver e ferida que dói e não se sente". 
               Um bom relacionamento requer o prazer que pode ser expresso por uma aliteração de ruídos, no clímax de uma colocação bem feita ou aquele que surge diante do apagar das luzes. Mas, infelizmente eu insisto em dizer, que casal nenhum sobrevive apenas de momentos ocultos e prazerosos. Explicitamente deve haver concordância, tópico frasal e o como objetivo a felicidade de ambos. Jamais utilize assíndetos, nunca omitas as preposições; mas, contudo, porém entretanto, não importa quais forem as de sua preferência, exija explicações concretas, não se deixe enganar e não permita enganar a si mesmo. A sinceridade deve partir do seu interior antes de tudo, vírgulas servem para garantir algumas pausas necessárias e que fazem pensar em tudo o que pode ser melhor.
                A linguagem não precisa ser formal, a regra é que os dois se entendam e que haja um exagero de respeito, doses moderadas de carinho e uma pequena ironia, só para que o romance não perca a graça. Um verbo mal conjugado, é problema não certa! Evite pensar no que foi ou no que será, lembre-se sempre do modo infinitivo - que garante a infinidade da relação e demonstra o quanto é importante ela existir  e não o que já existiu e deixando de cogitar a hipótese de que outras existirão. Não me importa se o futuro é do presente, do pretérito, aliás o pretérito é o que menos deve preocupar, pois o presente é o melhor tempo. E por falar em tempo, tire um pouco para si e jamais deixe a sua felicidade de lado. Amar é buscar a felicidade mútua, aliada ao conforto de ambos e bem estar - e se não for assim, dispense as vírgulas e ponha um bom ponto final. 

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