Professor na selva

               Um milhão de vozes sopram sem pausa, sem pena de mim; sem pena de si, o corpo berra, se debate, briga, xinga. Um milhão de palavras sujas, soltas, raiventas, malucas. Inibidas em um cérebro relativamente nada pensante. Fazer o que? Andar contra a maré me tira as forças, incendeia veias - feito palha seca, quando queima na lareira - deixa lesionada minha fonte de ideias novas e planos para um possível futuro. Não vejo nenhum, diante dessa oposição e resistência da máfia de preto e gravata. Talvez aqueles pequenos olhos azuis digam o que minha boca não consegue, se não for tarde demais. Quem sabe as coisas não mudam, quem sabe... Quando digo que já não penso, é porque não sei pensar. Desaprendi por zelo aos neurônios que ainda restam. O restante já retirado do acervo fora gasto com outras mentes, por vezes ocas, por vezes inexistentes. E já dizia o sábio - revolta gera revolta - sem mais! Assim, parei de tentar no momento em que percebi que a indignação estava liquidando inocentes mentes recém nascidas ou que ainda estão por nascer. Então, ao invés de enfrentar uma depressão nada meiga, resolvi contribuir com o que chamo de tentativa de reconstrução das mentes perdidas. Espalhando ideias feito bolhas de sabão, de trinta em trinta, de pessoa para pessoa, até que se calem as vozes - me gratificando com satisfação. Ah! Antes que me esqueça, espero que sejam plantados árvores de "nãos" para que não haja a extinção desta espécie, abolindo-nos da vida na selva para novamente haver civilização.
                      

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