Cheiro de pecado


     Um rastro de perfume passa por mim, todas as manhãs, no corredor do prédio. Desce ao meu lado no elevador e se despede no box vinte e seis da garagem. Não conheço o seu dono. A única informação que tenho é que aquele cheiro não me engana. É de macho! E macho daqueles... Ouvi dizer que o bendito dono do perfume mora no andar de cima, não sei se é solteiro, nem se é alto, baixo, retangular ou moreno. Achei estranho pois, nunca o vi. Confesso que ando curiosa, imaginativa e um tanto envaretada. Todas as manhãs enfrento a queda de nove andares ao lado daquele aroma que deixa o dia mais gostoso, com ar de ousadia. Às vezes penso que é melhor esquecer, tentar descer pela escadaria - assim, já exercito os glúteos e respiro novos ares - parar com essa ilusão, com essa infinita espera. Tento me convencer que os quinze já passaram e a imagem daquele professor/personal espetáculo de olhos verdes, aquele pacote de músculos ambulante não existe, nunca vai existir e muito menos morar no meu prédio. Tento, tento e não consigo deixar de desenhar lábios rosados e carnudos, olhos brilhantes, cabelos desajeitados e uma colher de chá de charme. Apesar de querer conhecer esse ser, temo em encontrar um senhor de cabelos grisalhos, acompanhado de sua senhora, filhos... E, talvez por isso, prefiro me manter assim - COMPLETAMENTE LOUCA por esse cheiro de pecado - que me faz sentir viva. 

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