Chocolate amargo

            Me senti triste quando você partiu. Me senti no chão, como pneu quando está vazio. Chorei bastante, emagreci uns quilos. Enfim, foi aquele drama mexicano que todo mundo conhece. Afinal, quem nunca amargurou uma fossa? Quem nunca passou por isso? Lamento em dizer (para os que ainda não passaram), que seja de um modo mais explícito ou de um modo mais discreto, um dia você vai passar por isso. O engraçado foi que, mesmo protagonizando aquele dramalhão todo, eu parei para pensar e olhar ao meu redor tudo o que sobrou, o que ficou, o que eu poderia consertar. Eu sabia que tinha de começar do zero e cheguei à conclusão de que para ver tudo de pé, outra vez, eu deveria me mexer. Naquele exato momento tirei o casaco, peguei a tesoura, passei nos cabelos. Mudei a cor do batom, abri as janelas de casa - arejei as ideias - e refletindo cheguei à conclusão de que a gente não pode ficar se condenando por ter vivido uma situação que não foi legal. Não foi legal? E o que falta para viver algo legal? Arriscar. 
              Sair de casa é bem importante, estar ao lado dos amigos, mas o melhor remédio é enfrentar a situação de frente. Encarar a pessoa que te magoou, olhar nos olhos dela, demonstrar pro mundo como você se sente. Esconder, mentir, se enganar nunca fez bem. Escorada na sacada do meu apartamento pude lembrar de uma velha amiga, que perdera dois filhos dos três que tinha. Baixei a cabeça e pensei: sair de um relacionamento, quebrar uma amizade ou até mesmo a morte de alguém querido, realmente magoa - mas não mata! Nem a perda de um filho é fatal. Tudo é capaz de se regenerar. Somos bilhões e é impossível que não haja um outro alguém para estabelecer uma amizade, um relacionamento ou até mesmo amar independente de qualquer coisa. Quantas pessoas traídas existem, quantas mulheres agredidas... Ninguém morreu. Porque o sofrimento faz parte de nós e em qualquer tipo de relação humana o que nunca deve existir é o sentimento de perda, o que fica é apenas saudade de tudo o que valeu à pena e lições que vão fazer crescer. 
              Depois de pensar em tudo isso, enfrentar, te encarar os olhos. E finalmente me perguntar: o que eu estava fazendo comigo? Autodestruição? Não sei, não me importa. Eu prefiro dizer que eu estava provando um doce - que de fato não era doce - e essa experimentação serve para que eu nunca mais prove esse mesmo doce, aliás isso tudo me estimula a procurar por outros doces e saber valorizar aquele que for de fato o meu predileto - aquele que for feito com ingredientes que vão muito além de "carinho".

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