Quem sabe?

         No envelope eu pus todos os versinhos, as carícias, as palavras de amor. No envelope encontram-se antigas razões, frutos colhidos pela doce ilusão e os desejos mais sórdidos. As cartas que não entreguei, o e-mail impresso, que não enviei e toda minha ternura. Anexei ao retrato toda a minha delicadeza que pede para sair daquela caixa preta. As pétalas secas de todas as rosas também estão ali, regadas com cada lágrima derramada. O beijo, o gosto, o amasso e, sobretudo o corpo, eu enterrei em um jardim longe daqui. O coração continua batendo, batendo e só. As canções eu canto só, quando só as paredes podem me ouvir. Eu canto baixinho, afinado. Eu canto para aliviar a alma, para me fazer sorrir e para me recordar de tudo o que havia aqui, antes de ti. Cada passo deixa uma pegada na minha estrada, cada pegada uma marca, um registro. Cada passo me deixa sem certeza, mas me dá uma esperança diferente. Mas, tudo depende do dia,  que se cinzento como hoje - só me traz lembrança tua. E, por falar em ti, já não sei quem és, de onde veio, nem teu nome. Nem teu cheiro conheço mais. A grande verdade é que congelou tudo o que era fogueira, mas, quem sabe um dia talvez eu aqueça, quem sabe eu me renda para o mais perigoso bandido, quem sabe eu me renda de novo - para o amor.

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