P.S. Eu te amo

           O aroma era forte, seco e quase nada adocicado. Assim, na medida certa. O sorriso inteiramente branco, a pele morena e os olhos de cor indefinida. Alto, de semblante sério e pé quarenta e quatro. Como eu sei? Nesta época eu trabalhava de vendedora em uma loja de calçados. E ele era nosso cliente, o mais bonito, mais simpático e o mais fiel. Passava semanalmente na loja para dar uma olhada nos lançamentos. E eu sempre fazia questão de atendê-lo. 
            Certo dia, ele passou na loja à procura de um sapato feminino, pediu minha opinião. Surpresa, já que ele era aparentemente solteiro, perguntei quem ele desejava presentear. Ele respondeu que daria o sapato para uma garota, mas não especificou qual o tipo de relação havia entre eles. Disse a ele que os sapatos de cor vermelha estavam com uma boa saída e que de todos ali, era o que eu mais gostava. De maneira objetiva respondeu: então, é esse!
             Fiquei surpresa. Afinal, confesso, aquele homem era atraente, tinha a estrutura perfeita e sonho de qualquer mulher. Ele dirigiu-se ao caixa e conversou durante certo tempo com a atendente. Pensei, logo, que ele poderia estar interessado nela. 
              Nesse dia eu tinha um trabalho da universidade para fazer, portanto planejava chegar em casa, tomar um banho e me jogar nos livros. Porém, quando cheguei em casa, havia um cesto com flores em cima da mesinha. Perguntei para a minha mãe quem as enviou e ela disse que era anônima. Havia um convite dentro do cesto, era realmente anônimo e me convidava para jantar. Comecei a rir no ato, pedi para a minha mãe fazer o que quisesse com as flores, pois eu não iria neste jantar, afinal, eu achava que era algo inventado pelo Jack, o meu ex. Minha mãe disse que brigaria comigo caso eu não fosse, mesmo assim, não fui. 
                 No dia seguinte parti para o trabalho, tudo normal. Fui para casa e minha mãe disse que havia chegado uma caixa destinada a mim, de novo anônima. Abri a caixa era um colar, lindo e aparentemente valioso, junto havia um convite para jantar no mesmo local. De novo, não fui. E assim, todos os dias daquela semana haviam presentes anônimos e convites para jantar. No sétimo dia resolvi ir, descobrir quem me mandava tais objetos e devolvê-los. 
                   Coloquei o meu melhor vestido, me produzi inteira e fui. O restaurante era fino. Lá fui orientada a esperar em uma mesa que estava reservada e nela havia uma caixa preta. Sentei, esperei durante uns trinta minutos, quando fui surpreendida por aquele aroma delicioso que me atraia. Era ele. Vestia uma roupa digna da ocasião, estava vestindo um terno preto, inesquecível. 
                   Jantamos, bebemos um vinho importado, conversamos. E por fim, ele me entregou a caixa preta, nela havia o sapato vermelho. Logo, questionei o que ele realmente queria comigo, decidido respondeu que me observava sempre que ia comprar lá na loja e que estava apaixonado por mim. Eu ri. Sério, para calar o meu riso, ele jurou provar seus sentimentos. Àquela noite foi longa, maravilhosa e bem aproveitada. Fomos para o apartamento dele. Confesso que nunca havia sido tão feliz, quanto fui com ele. Afinal, de maneira sem igual ele me desejava. 
                    Alguns meses depois começamos a namorar, fomos muito felizes durante o namoro e talvez, por esse motivo, hoje, às vésperas do nosso casamento estou aqui, ansiosa, a sentir aquele aroma impregnado na camisa branca, do nosso primeiro encontro. 

 Cedo, para reforçar o inacreditável, recebi flores e no bilhete, anônimo dizia: 

       P.S. EU TE AMO ! 

2 comentários:

  1. Muito bonito, muito bem escrito, cada vez me surpreende mais com a tua criatividade e sensibilidade mistura à intensidade nas palavras. Um beijo.

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