O amor é gago

             Desde muito nova trabalho como recepcionista em uma empresa de exportações. O fato é que para exercer a minha função é necessário que a pessoa seja desinibida e bastante comunicativa. Eu nunca fui assim, até o dia em que passei a me desconhecer. Talvez o que eu tinha era medo ou vergonha de me expor.
               Para chegar no meu trabalho eu pego o metrô e caminho cerca de sete minutos. Certo dia, estava saindo de casa, para ir trabalhar, quando parou um carro prata do meu lado... O vidro baixou, dentro havia um homem desconhecido, que para a minha surpresa me ofereceu carona. Ele disse que me conhecia do "café" que eu sempre frequento durante o intervalo e que acabara de se mudar para o meu bairro. Encabulada e completamente chocada, resolvi aceitar a gentileza. Um homem bastante agradável, com bom gosto musical, nem bonito, nem feio... Digamos que mediano! E o principal: ga-ga-guinho. 
                 O trabalho dele era perto do meu, na mesma quadra, eu diria. Meu namorado estava viajando à trabalho, mas acho que ele não veria problemas em eu pegar uma carona com o vizinho. 
                  Na sexta-feira daquela mesma semana, o Bru-no me convidou para ir no café com ele depois do expediente, aceitei, pois precisava me distrair. Bebemos um café, ele se apresentou de modo decente. (Bruno, 31 anos, formado em arquitetura e estudante de design de interiores.) Eu me apresentei e desenvolvi um papo de modo que eu me espantei comigo mesma. A conversa fluiu, tudo no tempo certo e eu ganhei um amigo.
                   Na semana seguinte, o Rafa estava para chegar de viagem, mas eu não sabia ao certo que dia. O Bruno me convidou para jantar e eu disse só aceitaria caso eu escolhesse o restaurante. Levei ele para experimentar uma comida japonesa, que eu adoro. Quando chegamos, recebi uma mensagem do Rafa, dizendo que estava na minha casa. Liguei para ele e disse que estava no Tóquio (o restaurante). O Bruno estava meio estranho desde que chegamos no local, logo pensei que ele pudesse estar com algum problema. Porém, quem estava com sérios problemas era eu, já que precisava arrumar uma namorada pra ele, antes do Rafa chegar. 
                   Havia uma garçonete bastante simpática, ofereci uma grana à ela para que se passasse por namorada de Bruno. O Rafa chegou e no mesmo instante a garota sentou-se ao lado de Bruno. 
                   -   Quem é esse? - Bruno
                   -  Um amigo meu. - Respondi
                   -  Sou o Bru-bru-no! E essa é a minha na-na-morada.
                  -   Hellen? Não sabia que estava namorando!
                  -    Você conhece ela, Rafael ?
                  -  Sim, nós nos conhecemos e muito - Respondeu a garota
                  -   Como assim? - Interroguei surpresa
                  -  Eu e a Hellen namoramos, durante dois anos
                  -   Essa é a Hellen?! (Quase morri do coração nesse momento, a garota era linda, dona de um corpão que até eu era capaz de virar o pescoço, caso a visse na praia.)
                  - Sim, prazer! Hellen.. Por que tanto espanto, querida?
                  - Nenhum.. Quer dizer... Todo. Eu jamais imaginava que você fosse a ex-namorada do Rafa.
                  -  Por que?
                  - Porque você parece magra, totalmente diferente do que o Rafa havia descrito.
                  -  Como assim? - disse a garota quase saltando no meu pescoço. - Eu não quero saber de nenhuma explicação.. quer saber, já fui humilhada o bastante!
                  -  Es- es- pera Hellen .. - disse Bruno
                  - Marília! Olha o que você disse para a garota! - disse Rafa - Eu vou atrás dela!
         Que confusão! Eu que sempre fui tão tímida, disse uma coisa daquelas.. Não pude nem cumprimentar meu namorado, que foi correr atrás da ex e estraguei o meu jantar com o Bruno. Comecei a chorar, no ato. O meu amigo me abraçou e me levou para casa. Conversamos e em instantes me acalmei. Ele se esforçou para vencer a gagueira e me fez rir demais. A noite passou e nem percebemos. E, antes dele ir embora, preguntei o motivo dele estar estranho quando chegamos no restaurante e ele confessou que estava apaixonado por mim e não sabia como dizer isso, pois sabia que eu era apaixonada pelo Rafa. No mesmo minuto, recebi uma mensagem no celular: "Imperdoável o que fizeste, está tudo acabado entre nós!". Não derramei nenhuma lágrima, afinal eu já havia acostumado viver sem o Rafael, que ultimamente só ligava para o trabalho.. O Bruno havia me feito feliz em uma semana, uma felicidade que eu não havia vivido durante o tempo que estava namorando.
           Imediatamente desci as escadas correndo, abri a porta e fui ao encontro de Bruno. Sem falar nada, dei o beijo mais longo e alucinante da minha vida. O tempo fechou, começou a chover, mas para mim não importava. Na verdade, o mundo poderia acabar naquele instante e ainda assim, eu estaria feliz, por ter encontrado em apenas uma semana o amor da minha vida.

Aos que dizem que o amor é cego, estão enganados, pois o amor é gago! 
                   

                      
                   

2 comentários: