Eram cinquenta homens e eu. Sim, cinquenta, todos os dias. E eu me espantava a cada dia mais com a forma grotesca e ao mesmo tempo tão delicada deles de lidar com o mundo. Tudo tão mais simples, tão mais sincero, desapego. Quebrou? Compra outro. Rasgou? Rasga o resto. Divórcio? Próxima! Não, eu não era uma puta qualquer, muito menos um prodígio que consegue ter cinquenta clientes em um dia. Eu era apenas uma Engenheira Civil que comandava uma obra com cinquenta homens.

Tudo bem que são frágeis, não conseguem suportar uma dorzinha sem fazer fiasco. Nesse ponto nós mulheres estamos de parabéns. Mas, o que me irrita é que mulher grita pra tudo. Quando algo cai, quando leva um susto, quando está com medo, quando briga e até quando... Enfim, não consigo compreender qual seria o efeito do grito. Já os homens não sofrem desse mal. Tá, eles fazem fofoca, mas não em um nível tão maldoso quanto uma mulher. Chamam o cara de corno na frente dele e quando querem algo, tipo folga no feriadão, conseguem se unir. Acabei por conceder a tal folga, eles me conquistaram a cada dia com esse jeito estúpido e mal educado. Sim, eu gosto de pessoas educadas, mas o que me chamou a atenção foi esse desapego, essa leveza, que ás vezes vinha em forma de selvageria. Eles comem desesperadamente, sem preocupação, não passam protetor, não cuidam do cabelo, não gastam com milhões de cremes para a acne, erguem uma barra de concreto como se fosse uma pena e muitos até carregam um pedaço de concreto no peito. Quanta praticidade! Obrigado, por favor, com licença, nem sempre fazem parte de suas vidas, eles choram, defendem suas fêmeas, fazem amigos em fração de segundos, marcam churrasco e futebol, convidam os outros quarenta e nove para comemorar um aniversário e são muito mais felizes, enquanto nós perdemos dias com mágoas, lágrimas e clichês que não fazem a menor diferença.
O prédio ficou lindo, a obra acabou e em mim se fez uma muralha de muitos metros, uma pitada de testosterona, animação e cerca de três quartos de desapego.