Meia nove

          Meu nome é Julie, sou chefe de departamento, ou melhor, ex-chefe de departamento. Há uma semana fui demitida, ou seja, sou uma desempregada qualquer. Sou solteira e tenho um filho, o Eduardo.
            Certo dia, naquele dia, meu último dia de trabalho, recebi um e-mail maluco de uma amiga me convidando para ir a uma reunião de mulheres.. (Você deve estar se perguntando o que há de maluco nisso e vai ficar se perguntando por mais um tempinho). O fato é que eu estava abalada, afinal sem emprego, o destino se torna incerto, portanto não estava no clima para qualquer tipo de evento ou comemoração. Porém essa minha amiga insistiu muito e passou aqui em casa para me apanhar, ou seja, acabei indo. O local era completamente estranho e não combinava com uma simples reunião de mulheres. Apavorada, perguntei para a minha amiga, a Dani, se havia algum tipo de brincadeira ou algo que eu não sabia.. Ela disse que não, que estava tudo sobre controle. Dessa forma, confiei nela e fui em frente.
               Aparentemente parecia uma residência comum, com direito a cachorro e tudo mais. Mas uma coisa me intrigava, o som alto que partia lá de dentro. A Dani não havia me dito que seria algo mais descontraído.. Trajando o meu terninho de sempre e de cabelo repartido no meio, entrei. Haviam muitas mulheres naquele local, todas animadas, dançando, curtindo. Fui apresentada a dona da casa, a Lia, e ela me pareceu bem simpática. 
                Nos primeiros trinta minutos estava achando tudo um saco, pra ser bem sincera, já que eu não estava nada animada. Mas, depois de uma dose seca de whisky a noite começou a esquentar, literalmente. Afinal, foi nesse instante que eu tirei o blazer e me joguei na pista. Dancei, dancei muito. A essa altura a Dani havia sumido de meu lado, tive que me enturmar com umas outras mulheres da casa. Todas muito receptivas. Ocorria tudo da maneira mais maluca possível, eu nem acreditava que estava ali e passei a acreditar menos ainda quando olhei para o lado e haviam duas mulheres envolvidas por um beijo intenso. Foi nesse instante que decidi parar de beber e observar as outras mulheres ao redor, então, percebi que elas dançavam em duplas, "cantavam" umas as outras.. Em fim, só aí me dei por conta de que eu estava em uma cilada. A reunião de mulheres, na verdade, era uma festa Lésbica. 
                 Apavorada, sai pelos quatro cantos daquela casa imunda para procurar a Dani, que havia sumido. Que nojo sentia, enquanto aquelas mulheres passavam a mão em mim, e mais nojo me dava, quando pensava o quão tonta fui em não ter percebido tudo desde o início. Alguns minutos de caminhada e lá estava a Dani, conversando com a Lia. Me pus nervosa nesse instante, afinal não queria demonstrar o meu nojo para a dona da casa e por outro lado, pensava que eu devia fazer aquilo, afinal o que meu filho iria pensar se soubesse que eu frequentei um lugar desses. Fiz milhões de sinais, enviei um torpedo.. Mas nada da Dani vir ao meu encontro. 
                 De repente o meu telefone toca, era o Dudu dizendo estar com febre. Eu precisava sair correndo daquele lugar, mas não tinha como, afinal estava de carona e não tinha nenhum número de táxi. Nervosa, resolvi beber uma dose de tequila.. E puf! Não lembro de mais nada. 
                 Só sei o que me contaram e o que restou de mim no dia seguinte. Segundo a Dani, comecei a dançar como uma doida, chamei a Lia em um canto e disse que estava com muito nojo daquele lugar, mas que estava carente. Já a Lia me contou, no dia seguinte, que eu a beijei, em seguida fomos para o quarto. Já segundo a minha memória acordei ao lado dela, abraçada nela, na cama dela. OMG ! O meu nojo foi convertido em outras coisas e o meu filho entrou em convulsão e foi socorrido pela vizinha. 
                 Que pesadelo! Essas lembranças sujas, não saem de mim. Essa culpa sobrevoa sobre a minha cabeça, cada vez que olho para os olhinhos do Dudu, sinto tremenda vergonha. E um vazio, uma vontade de chorar, acompanhada de uma louca vontade de repetir tudo outra vez! Na rua do juízo, número 69.

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